sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

A decisão da Corte Internacional de Haia que definiu, nesta segunda-feira, os limites marítimos entre Chile e Peru foi interpretada nos dois países como "fim de um capítulo histórico" e entre os políticos como "vitória peruana". Mas analistas ouvidos pela BBC Brasil acreditam que o parecer pode beneficiar os dois países.

"O mapa peruano mudou, nosso território cresceu. O tribunal de Haia atendeu a 70% da nossa demanda", disse o presidente peruano Ollanta Humala, diante de simpatizantes em Lima.

Já no Chile, o clima entre os políticos foi de comoção. "A decisão (do tribunal) representa uma perda lamentável para o Chile", afirmou o presidente chileno Sebastián Piñera. Na mesma linha, a presidente eleita Michelle Bachelet, que assume o cargo em março, disse que foi uma "perda dolorosa" para seu país. A expectativa é que os três se encontrem em Cuba, nesta terça, durante reunião da Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos).

O assunto é sensível nos dois países e a histórica disputa marítima, que remete ao século 19, costuma ser apontada pelos especialistas como principal motivo da rivalidade entre habitantes dos dois países – que apesar disso têm intensificado, nos últimos anos, a relação comercial e econômica e a presença de trabalhadores peruanos no Chile.
Seis anos de disputa

O parecer do tribunal internacional, que não foi unânime, dá ao Peru uma parte maior do oceano Pacífico, mas mantêm áreas ricas em pesca nas mãos do Chile. A decisão foi conhecida após seis anos de expectativas e trocas permanentes de documentos e defesas orais por parte de peruanos e chilenos.

Em 2008, o Peru entrou com ação em Haia pedindo definições sobre os limites marítimos, argumentando que a área não havia sido delimitada desde a Guerra do Pacífico (1879-1883) e tampouco em documentos assinados em 1947 e 1952 (os quais, na visão do Chile, já resolviam a questão).

A decisão do tribunal internacional era esperada com enorme expectativas nos dois países.

"Acho que foi uma decisão salomônica e que deixou as duas partes contentes. O Chile manterá a área marítima que usava para a pesca e o Peru ganha território marítimo mas que ainda não tem condições e infraestrutura para usar", disse à BBC Brasil Carlos Aquino, diretor do instituto de pesquisas econômicas da Universidade Mayor de San Marco, de Lima.

Segundo Aquino, a questão histórica "foi resolvida", mas ainda é preciso ver como a decisão será colocada em prática a partir de agora. "Uma ferida aberta há mais de 130 anos foi fechada - e realmente foi o principal. Os dois países têm forte relação comercial e econômica e precisavam resolver essa questão", afirmou o professor peruano.

Na pratica, o Chile terá da costa, em Arica, no norte do país, até 80 milhas em linha reta, no oceano Pacifico, para exploração marítima. Já o Peru ganhou a partir desta marca de 80 milhas e até as 200 milhas no oceano, disse Aquino.
'Melhor que o esperado'

No Chile, o analista Ricardo Israel, que foi candidato presidencial na última eleição, disse que seu país "se saiu melhor do que se esperava".

"Claro que existe insatisfação com a parte do parecer que privou o Chile de uma área de domínio econômico exclusivo. Mas também houve o reconhecimento de que existia uma fronteira, ela era a partir do ponto que o Chile indicava e era uma linha reta com a fronteira terrestre - e não como o Peru entendia", disse Israel por e-mail.

Para ele, a partir de agora os dois países terão que fazer mudanças legais para se adaptar à definição judicial. "Seria uma boa oportunidade, uma vez por todas, de enterrar o passado e de se assinar um tratado do século 21, que enfrente temas comuns, já que as relações econômicas bilaterais são muito boas", afirmou.

Os dois países têm forte relação comercial e fazem parte da Aliança do Pacifico, que inclui também México e Colômbia. Estima-se que o Chile seja o principal investidor estrangeiro direto no território peruano.

Na visão do professor de ciências politicas da Universidade de Valparaíso (Chile), Guillermo Holzmann, ao definir o limite de 80 milhas em linha reta a área terrestre, o tribunal de Haia "preservou" a pesca artesanal, tradicional, nesta região chilena.

Holzmann entendeu também que houve uma "perda" territorial para o Chile, mas concorda que o país "perdeu menos que o esperado" e o Peru também "ganhou menos que o esperado".

Segundo ele, "não chega a ser uma decisão salomônica, mas minimiza e muito os custos políticos no Chile e no Peru".

"O maior desafio agora será a implementação dessa decisão", disse. Para Holzmann, o tribunal não definiu mecanismos para tal - e por isso mesmo, de maneira bilateral, peruanos e chilenos têm uma "oportunidade" para se começar uma "convergência" também em outras áreas, como a energética.

0 comentários:

Postar um comentário

Categorias

estudos (40) concurso (33) motivação (29) notícia (28) organização (23) dicas (22) crise (18) cursos (18) mundo (11) Itamaraty (8) frases (8) início (8) tirinha (7) África (7) textos (6) metodologia (5) europa (4) retrospectivas (4) carreira (3) lista (2) blog (1) retorno (1)

O blog deveria ter mais colaboradores?

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Twitter

Formulário de contato

Nome

E-mail *

Mensagem *

Visitas

Maria
Alguém tentando se organizar,
Ver meu perfil completo

Atualizações do MRE

Seguidores